Esclavagismo


Esclavagismo é um tipo de relação ecológica entre seres vivos onde um ser vivo se aproveita das atividades, do trabalho ou de produtos produzidos por outros seres vivos.

Os pulgões são pequenos insetos parasitas de plantas que passam a maior parte do tempo parados, sugando a seiva açucarada que circula pelos vasos liberianos das plantas. A seiva elaborada pelas plantas possui uma pequena quantidade de aminoácidos mas uma grande quantidade do açúcar glicose, assim para obter a quantidade de aminoácidos que necessitam para formar as suas próprias proteínas, os pulgões precisam sugar uma quantidade exagerada de seiva açucarada de forma que esse excesso de açúcar ingerido precisa ser excretado. As formigas lambem todo esse açúcar que fica saindo constantemente do abdome dos pulgões e assim os mantendo sempre limpos e protegidos e protegem os pulgões de eventuais predadores como por exemplo as joaninhas que são predadores dos pulgões. O açúcar é um importante alimento para as formigas e, por isso, elas se associam aos pulgões produtores de açúcar escravizando-os. As formigas também tratam e protegem os filhotes dos pulgões, levam-nos para locais mais seguros nos caules das plantas, ou mesmo para dentro do formigueiro, onde os instalam junto a raízes de plantas vivas; esses pulgões passam a sugar as raízes fornecendo açúcar para as formigas mesmo dentro dos formigueiros

A construção do Canal de Suez

A construção da obra estratégica que começou a ser traçada nos tempos dos faraós

Texto Eliane Sobral | Ilustração CorBIS | 06/02/2014 15h28
Se do ponto de vista da engenharia o Canal de Suez não figura entre os grandes símbolos da construção civil erguidos ao redor do mundo, desde os primórdios dos seus traçados é inegável a importância estratégica atribuída a essa via que liga o porto egípcio Said, localizado no Mar Mediterrâneo, à cidade de Suez, no Mar Vermelho. Isso porque ela descerrou a passagem para que embarcações naveguem da Europa à Ásia sem ter que contornar a África pelo Cabo da Boa Esperança, no sul do continente – o que demorava meses. Até hoje, essa zona navegável tem papel de destaque no comércio global, com nada menos do que 14% dos produtos comercializados no mundo passando por ali.

Na história da elaboração da travessia de 195 quilômetros, registros mostram que abrir esse caminho era um sonho tão antigo quanto a dinastia do faraó Sesóstris III (1878 a.C.-c.1840 a.C.), que ordenou as primeiras escavações. Daí em diante, a cada reinado, o projeto avançava alguns quilômetros, para ser dado como completo no governo de Dario I, cerca de 500 anos antes de Cristo.





As técnicas utilizadas no período consistiam simplesmente na escavação do istmo e na colocação de pedras para a vedação. Todo o esforço era feito por mãos e braços de mais de 1,5 milhão de escravos. Em pelo menos duas ocasiões, primeiro no ciclo de Trajano e depois no do califa Omar, as areias do deserto trataram de impor a lei natural e fechar o que era uma precária via de navegação fluvial.
A decisão de abrir a passagem ressurgiu com força durante a campanha de Napoleão no Egito. Em 1832, o então vice-cônsul da França no país africano, Ferdinand Lesseps, recebeu a incumbência de implementar o projeto encomendado pelo general francês ao engenheiro Charles Pepère. O trabalho de Lesseps foi facilitado com a morte do vice-rei Abbas Pachá e a ascensão de Mohammed Saïd ao poder. Saïd e Lesseps eram amigos e não tardou para que o novo monarca criasse a Companhia Universal do Canal Marítimo de Suez e colocasse o camarada Lesseps na presidência da empresa.

Mãos à obra
Foi só no século 19 que Suez ganhou status de obra de engenharia moderna, com o envolvimento direto de britânicos e franceses. Para ter uma ideia do que era a construção naqueles tempos, vale lembrar que nem carrinho de mão os trabalhadores conheciam. Em 1860, 50 mil pás e picaretas foram encomendadas da França. À imensa lista de escassez somava-se a mais brutal delas: a de água potável. A primeira solução foi importar destiladores da Holanda – que logo se mostraram insuficientes, pois o consumo era de cerca de 15 mil litros por dia, enquanto a produção dos aparelhos não ultrapassava os 5 mil. O problema foi amenizado por volta de 1862, com a conclusão de canais de irrigação a partir das águas do Nilo.

Lesseps e seus homens ergueram também um pequeno porto para acomodar o equipamento importado da Europa e, mais tarde, para abrigar os navios que atravessavam o canal. Surgiu Porto Said no pantanoso Golfo de Pelusa. Em frente foi construído o Porto Fuad, para receber oficinas e, depois, um pujante centro comercial. Em ambos pela primeira vez foram utilizados blocos de pedras de concreto no lugar de rochas naturais.

A abolição da mão de obra forçada no Egito gerou outra dificuldade no andamento da obra do canal. Dos 20 mil homens que ainda trabalhavam em Suez sobraram pouco menos de 5 mil – que prestavam serviço “voluntariamente”, segundo os registros da Association Lesseps, mantida na França em homenagem ao antigo diplomata. “Por essa época, começaram a utilizar equipamentos mecânicos que apareciam na Europa”, conta Carlos Racca, engenheiro da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. A principal inovação tecnológica com a entrada da França e da Inglaterra na edificação foi o uso de escavadeiras movidas a vapor, surgidas no início da industrialização no Velho Continente.
Foram necessários dez anos até a conclusão da travessia, de 1859 a 1869, o dobro do tempo previsto. “Em comparação, o Canal do Panamá é uma obra muito mais complexa, em razão do desnível entre os oceanos Pacífico e o Atlântico”, explica Racca. “Mas Suez impressiona pelo tamanho. E é uma pena que não haja registro de como se fez a coordenação de 40 mil indivíduos operando simultaneamente. Afinal, não havia curso de gestão de pessoas à época”, provoca ele.

Presença francesa
Estamos na era dos grandes impérios e, durante muito tempo, o canal, responsável por um impulso extraordinário no comércio global, foi palco de acirrada disputa entre os dois maiores da época: Grã-Bretanha e França. “Ambos tinham projeto de inclusão da região do Oriente Médio como área de influência cultural e econômica da Europa”, destaca Murilo Meihy, professor de história da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na ocasião, conta ele, os britânicos executavam um plano de colonização verticalizada que consistia em criar um corredor ligando o Egito à África do Sul. Já a França tentava instalar uma versão horizontal, do Saara ao Egito.
A luta pela supremacia no país africano gerou lances, por vezes, engraçados. Enquanto se preparava a festa de abertura do Canal de Suez, o monarca egípcio Ismail Pachá, sucessor de Mohammed Saïd, convidou a imperatriz francesa Eugenie, mulher de Napoleão III, para inaugurar a via a bordo do navio L’Aigle. Tudo parecia perfeito não fosse a manobra do britânico George Nares. Na madrugada do dia 16 de novembro de 1869, o comandante mandou apagar todas as luzes de sua embarcação, enfrentou a escuridão e literalmente furou a fila.

O caminho da nacionalização
A história do Canal de Suez nos remete a períodos de conquistas, intensas disputas coloniais e conflitos entre nações e empresas. Os desentendimentos já eram uma constante numa fase em que ainda não havia a exploração petrolífera no Oriente Médio. A descoberta do “ouro negro” décadas depois, já no início do século 20, só fez acirrar os ânimos na região.

Inicialmente, Egito e França eram os proprietários da obra. Mas a sorte mudou para o lado dos britânicos quando, em 1875, o Egito declarou que não tinha condições de arcar com sua dívida e vendeu sua parte aos súditos da rainha Vitória. Com a aquisição, o Reino Unido garantiu sua rota para as Índias e as tropas britânicas instalaram-se às margens do canal para protegê-lo em 1882. Os ingleses passaram a ter controle quase completo ainda sobre a economia egípcia, então maior produtora de algodão do mundo – matéria-prima fundamental para a moderna indústria têxtil inglesa.
Ocorre que a Inglaterra pôs em prática no Egito o mesmo modelo de colonização que desenvolvia em outras regiões sob seu domínio, preservando no poder uma elite local submissa aos interesses britânicos. Em 1888, contudo, a Convenção de Constantinopla estabeleceu a neutralidade do Canal de Suez – e instituiu o uso livre da passagem.

Com o início da Primeira Guerra Mundial, o Egito vislumbrou novas oportunidades de mudanças, apostando que, encerrado o confronto, as tropas britânicas deixariam o país. Mas não foi o que aconteceu. Inglaterra e França não só pretendiam permanecer no Oriente Médio como almejavam ampliar o controle sobre a região, incluindo, é claro, Suez. Isso ficou provado com o acordo secreto Sykes-Picot, assinado pelas duas potências em 1916. Em nova reação, agora após a Segunda Guerra, o Egito pressionou pela retirada das tropas inglesas do canal. E, em meados de 1956, seu então presidente, Gamal Abdel Nasser, decidiu nacionalizar o canal e os bens da companhia que o administrava, uma sociedade entre França e Reino Unido, principais beneficiários das taxas pagas por navios petroleiros que trafegavam por ali.

A decisão foi tomada depois que o Banco Mundial, com a retaguarda dos Estados Unidos e da Inglaterra, negou um pedido de crédito para a construção da gigantesca Barragem de Assuã no Rio Nilo. Nos dias que se seguiram, maciças mobilizações populares ocorreram em todo o país. Em represália, os bens egípcios foram congelados e a ajuda alimentar, suprimida.

Além disso, Nasser denunciou a presença colonial dos britânicos no Oriente Médio e apoiou os nacionalistas na Guerra da Argélia. Em resposta, o Reino Unido e França, com a participação de Israel, se lançaram numa ação militar, a Operação Mosqueteiro, em 29 de outubro de 1956. A crise do Canal de Suez durou uma semana, até que a Organização das Nações Unidas confirmou a legitimidade egípcia e condenou a investida comandada pelos britânicos.

Em 1967, estourou a Guerra dos Seis Dias e o canal ficou fechado até 1975, quando, por ocasião da Guerra do Yom Kippur, também conhecida como Guerra Árabe-Israelense, a passagem foi recuperada e as fortificações israelenses, destruídas. As forças de paz da ONU só deixaram a região em 1974.

Intrigas e disputas políticas - Personagens que marcaram a luta pelo controle de Suez
Inimigos lado a lado: Nasser (no centro) e Eden (à direita) se encontram em 1955
A deposição do último monarca do Egito, o rei Faruk I, que governou entre 1936 e 1952, abriu caminho para que despontasse na cena egípcia o jovem e carismático coronel Gamal Abdel Nasser – que viria a ser presidente do país e responsável pela nacionalização do disputado canal. Faruk, é bem verdade, ficou mais conhecido por seus excessos à mesa. Isso porque, num país pobre a ponto de apenas 10% da população se alimentar com regularidade, ele não deixava a mesa do café da manhã sem devorar cinco ovos, uma tigela de mingau de aveia, um prato de feijão e uma caneca de cacau, segundo relatos da época. De forma que ninguém ficou exatamente surpreso quando, em 1965, então no exílio em Roma, o rei morreu por indigestão. Nasser, por seu lado, era adorado pelo povo e respeitado pelos oponentes. “Ele era eloquente e charmoso”, na definição do antigo premiê israelense Shimon Peres, em um documentário sobre a Guerra de Suez (1956), no qual explicava o início do conflito. “Eu estava por acaso em Paris. O ministro da Defesa da França me chamou e perguntou se alguma vez pensáramos em atacar Suez. E foi assim que tudo começou”, lembrou Peres. Mas pode-se dizer que o grande adversário de Nasser tenha sido o britânico Anthony Eden, deputado conservador que sucedeu Winston Churchill como primeiro ministro (1955-1957). Ele transformou a luta de seu país para recuperar o domínio sobre o canal em uma batalha pessoal contra o líder egípcio. A vitória de Nasser foi uma derrota amarga demais para Eden, que parecia movido por uma só missão: acabar com o presidente do Egito. O governante resistiu a vários atentados até sofrer um ataque cardíaco, em 1970. Já Eden se demitiu do posto e, alegando motivos de saúde, terminou seus dias na Jamaica.

Documentário - A História do Heavy Metal



Por carregar com uma overdose o espírito do rock’n’roll, bandas como Black Sabbath, Iron Maiden, Mötley Crüe, Slayer aparecem no documentário.A História do Heavy Metal traça a evolução do gênero e sua cultura, desde seu começo nebuloso em Birmingham, na Inglaterra, até atingir as alturas e chegar ao sucesso mundia lque permanece até os dias de hoje.

Por intermédio de episódios que seguem a linha do tempo, o especial explora quarenta anos de música: os pioneiros com suas manias e excessos, a alma rebelde inerente aos seguidores do gênero e a polêmica relação com o diabo. Procure seu pentagrama, aumente o volume e dê uma volta no tempo com o VH1!

A historia do Heavy Metal esta divido em 4 Partes:


PARTE 1

PARTE 2
PARTE 3
PARTE 4 (FINAL)

A História do Pink Floyd



O documentário A História do Pink Floyd traça a trajetória de três décadas da legendária banda que explodiu na cena underground londrina dos anos 60 e que só teve cinco integrantes (Syd Barrett, David Gilmour, Roger Waters, Richard Wright e Nick Mason), três dos quais a liderando em diferentes momentos (Syd, Roger e David) e apresentando diferentes versões da mesma banda. O documentário conta com sonoras originais dos quatro integrantes vivos até então (Rick morreria em setembro de 2008, antes da finalização do programa) e de profissionais que trabalharam com eles. Além disso, traz ainda uma conversa com Bob Geldof, que reuniu David, Roger, Rick e Nink para uma apresentação final dos quatro juntos encerrando o Live 8, em 2005.

Ficha técnica
Ano: 2007
Diretor: Chris Rodley
Duração: 59min

Informações de download
Tamanho: 214mb
Formato: mp4
Idioma: Inglês
Legenda: Português (legenda imbutida no vídeo)



As fotos da maior usina solar do mundo, que começou hoje a gerar eletricidade

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Há cerca de um ano, em Abu Dhabi, a Shams 1 recebia o título de maior usina solar do mundo, com seus 258.000 espelhos para coletar a luz do sol. Hoje, esse recorde foi quebrado.
O Ivanpah Solar Electric Generating System, na Califórnia (EUA), reúne 300.000 espelhos com 2 m de altura e 3 m de largura. Eles são controlados por computador, focalizando a luz do Sol até o topo de torres com 140 m de altura. Nelas, a água se transforma em vapor para mover turbinas de energia.
Esta é a maior usina de energia solar do mundo, e pertence às empresas NRG Energy, BrightSource Energy e Google – a gigante das buscas investe há tempos em energia limpa. A usina começou hoje a gerar eletricidade, após resolver questões regulatórias e problemas jurídicos.
O anúncio oficial lista as vantagens da energia solar:
O Ivanpah Solar Electric Generating System já está funcionando, e leva eletricidade solar para clientes na Califórnia. Em plena capacidade, as três torres com 140 m de altura produzem um total bruto de 392 megawatts (MW) de energia solar. Isto é eletricidade o bastante para 140 mil casas na Califórnia, que recebem energia limpa e evitam 400.000 toneladas métricas de CO2 por ano – o equivalente à remoção de 72 mil veículos da estrada.
A usina se estende por um terreno de 13 km² que pertence ao governo americano, próximo à fronteira entre os estados da Califórnia e Nevada. E ela é linda demais. Confira as fotos:



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Fotos por BrightSource Energy

Por que maconha da larica ?

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Todo mundo sabe que fumar maconha deixa qualquer um com fome. Com muita fome. Como se não comesse há uns três dias. Não tem dispensa que dê conta da larica. E por que isso? O pessoal da Universidade de Bordeaux, na França, foi buscar respostas.
Eles dividiram camundongos em dois grupos: metade foi alimentada com THC, princípio ativo da maconha, e o outro grupo não. Todos foram colocados ao alcance de bananas e óleo de amêndoa doce. A turma doida com THC passou muito mais tempo comendo e cheirando o óleo do que os outros. Desconfiados sobre a ação da maconha em um dos receptores do bulbo olfativo, fizeram outro teste. Alteraram geneticamente um grupo de camundongos e o deixaram sem o tal receptor. Mesmo sob efeito de THC, esses ratos não se interessaram muito por comida.
Ou seja, a larica só acontece porque a maconha age no sistema olfativo. Quando ativa os receptores do bulbo olfativo, ela faz você sentir mais o cheiro e o sabor dos alimentos. Faz seu corpo acreditar que sente fome. É o que acontece naturalmente quando passamos muito tempo sem comer: qualquer cheiro de comida deixa você louco de vontade.
Apesar da comilança toda, outro estudo garante que maconha não faz engordar. Curioso, não?

Crédito da foto: flickr.com/ryantron
por Superinteressante

No cérebro as decisões são tomadas em assembléia

Em 1949 o psicólogo canadense Donald Hebb formulou a sua famosa lei, que reza mais ou menos assim. Quando o neurônio A e o neurônio B descarregam simultaneamente, então os dois sofrem transformações tróficas que fazem com que as conexões sinápticas entre os mesmos seja reforçadas. O conceito de Hebb foi formulado de forma puramente teórica e constitui junto com o fenômeno anti-hebbiano a base conceitual das redes neurais. O reverso da lei de Hebb é que se os dois neurônios A e B não descarregam de forma sincrônica então a conexão sináptica entre eles tende a enfraquecer. A lei de Hebb constitui-se de um mecanismo associativo poderoso e plástico o qual foi explorado computacionalmente nas redes neurais, permitindo a simulação de diversos comportamentos inteligentes adaptativos, tais como aprendizagem, discriminação de padrões, sensibilidade contextual e reconstrução de padrões a partir de fragmentos etc. Das idéias de Hebb originou-se o conceito de assembléia neural, ou seja, o grupo de neurônios que se constrói e se desfaz de forma extremamente dinâmica como a unidade funcional do cérebro mais relevante para o estudo do comportamento e da atividade mental.

 "Vamos assumir que a persistência ou repetição de uma atividade reverberatória tende a induzir mudanças celulares duradouras que promovem estabilidade. (...) quando um axônio da célula A esta próxima o suficiente para excitar a célula B e repetidamente ou persistentemente segue fazendo com que a célula dispare, algum processo de crescimento ou alteração metabólica ocorre em uma ou ambas as células, de forma que aumente a eficácia de A, como uma das células capazes de fazer com que B dispare."

A teoria é frequentemente resumida como "células que disparam juntas, permanecem conectadas", apesar dessa afirmação ser uma simplificação exagerada do sistema nervoso que não deve ser tomada literalmente, bem como não representa fielmente a afirmação original de Hebb sobre as forças de troca na conectividade celular. A teoria é comumente evocada para explicar alguns tipos de aprendizagem associativos no qual a ativação simultânea de células leva a um crescimento pronunciado na força sináptica. Tal aprendizado é conhecido como aprendizagem hebbiana.

Interromper uma tarefa aumenta bastante as chances de nos lembrarmos dela

O efeito Zeigarnik foi imaginado pela primeira vez em um restaurante! Quando o professor de Bluma percebeu que os garçons eram capazes de lembrar de pedidos que ainda não tinham sido pagos com mais facilidade.


Garçons e sua memória fantástica

O modelo proposto por Bluma para explicar esse efeito consiste no simples fato que a mente humana é capaz de se lembrar de tarefas que foram interrompidas com mais facilidade que tarefas que consideramos completadas.


Nós somos naturalmente programados para pensar “eu comecei, agora tenho que terminar” e isso tem duas enormes consequências no desenvolvimento de software!

Em 1927, Bluma Zeigarnik realizou um experimento, sob a supervisão de Lewin, para testar essa proposição. Os indivíduos recebiam uma série de tarefas e lhes era permitido terminar algumas, mas eles eram interrompidos antes de completarem outras. Lewin fez algumas previsões.

  1. Um sistema de tensão será criado quando o indivíduo receber uma tarefa para realizar.


  2. Quando a tarefa for concluída, a tensão desaparecerá.


  3. Se a tarefa não for concluída, a persistência da tensão resultará na maior probabilidade de o indivíduo lembrar-se da tarefa.

   Os resultados de Zeigarnik confirmaram as previsões. As pessoas lembravam-se das tarefas não concluídas com mais facilidade do que das completadas. Desde então, esse efeito passou a se chamar de Zeigarnik.

Efeito de Zeigarnik: tendência de se lembrar mais facilmete das tarefas não completas do que das tarefas completadas.

ORNITORRINCO ENTREVISTA: VIVIANE MOSÉ

Assim que criamos o projeto de entrevistas do ORNITORRINCO, o nome Viviane Mosé estava entre os cinco primeiros desejos. Inteligente e comunicativa, uma pensadora contemporânea sensível aos derrames artísticos. Conhecida como filósofa pop por conseguir comunicar filosofia para as massas, Viviane é também requisitada por artistas e empresários que querem ouvi-la. Publicou ao todo 7 livros de poesia, entre eles "Toda Palavra"(2008) e "Pensamento chão" (2007). Também publicou livros de filosofia e psicanálise. "O Homem que Sabe"(2011); "Nietzsche e a grande política da linguagem"(2005); "Beleza, feiúra e psicanálise" (2004), entre outros.

Em seu último livro "A Escola e os Desafios Contemporâneos” (2013), fala de como o ensino no Brasil está preso em uma estrutura ultrapassada, que trata o aluno como decorador de conteúdos. Na nova sociedade, o processo de aprendizado foi democratizado através da internet, com o conhecimento sendo produzido em tempo real.

Nos encontramos em seu escritório no Rio de Janeiro, num desses dias de calor esquentando a cabeça. Mesmo estando em uma sala climatizada pelo ar condicionado, o pensamento da Viviane fez a nossa cabeça ferver, entrar em ebulição. Além de educação, falamos também sobre política, sobre as manifestações ocorridas no país, literatura, e vida privada versus biografias não autorizadas.

Entrevistadores: Júlio Reis, Gabriel Pardal e Vitor Paiva
Produção: Vitor Paiva.
Transcrição: Júlio Reis, Gabriel Camões e Vitor Paiva.
Fotos: Camilo Lobo


PARDAL: Como ser poeta, filósofa e professora em um mundo que tira de você, o tempo todo, o ócio reflexivo?
VIVIANE: Esse é o maior desafio. Meu maior sonho é comprar tempo. A gente acaba nesse jogo, entende? Você ganha dinheiro para comprar tempo. Você ganha para comprar ócio. E realmente isso é um inferno. Poesia, por exemplo. Eu estou lançando um livro de poemas novo...
PARDAL: Que maravilha.
VIVIANE: Chama-se “Calor”. São 100 poemas curtinhos. E eles são aqueles poemas arrancados. Sabe quando você tem um cravo no rosto e que ele pula? Que não cabe mais, que ele cresceu? É mais ou menos assim o meu poema. Porque tem uma hora que ele não tem mais aonde ir. Aí, de repente, eu sinto uma angústia, um incômodo, um mal estar enorme e quando vejo, tenho um poema. A filosofia, quando comecei, estava muito próxima do poema. Quando meu filho nasceu eu já tinha 40 anos. Nunca quis ser mãe. Não tinha essa pretensão. Eu tinha que olhar pra cara daquele menino e dizer: “é legal viver”, entende? Agora eu quero que o mundo seja um lugar melhor. E minha filosofia virou muito política. Aí pensei: “o que é que eu acho que muda o mundo?”. É essa porcaria de educação, que é a responsável pela maioria das merdas que a gente tem. E aí, comecei a fazer política. Então, isso me fortalece, sabe? Faço hoje política educacional.
JÚLIO: À propósito, você lançou o livro “A Escola e os Desafios Contemporâneos” e está falando de seu filho. A educação não tem sido usada como um pretexto, muitas vezes, para um tipo de persuasão dos pais em torno de um projeto que eles vislumbram para os filhos?
VIVIANE: Sim, você tem toda razão. E é justamente essa educação que coloco em questão. Até a metade do século XX você tinha alguém que determinava o que você deveria ser. Você podia seguir o estabelecido, que era a igreja, alguns valores familiares ou do estado, ou ia contra isso. Então tinha quem seguia e tinha os marginais. Sempre teve. Hoje, que o contemporâneo arrancou a cabeça de todo mundo, ninguém no mundo tem como seguir nada. Nenhum pai sabe o que fazer ou que projeto de vida ele quer pro filho. Hoje a gente tem uma internet sem cabeça, com milhões e milhões de cabeças funcionando. A gente tem essa ideia de que: “para ter um país bom, elege um cara bom”. Não existe mais essa possibilidade! Então, o que é educar hoje? Você só educa se, desde pequeno, exercita no outro a autonomia e a responsabilidade. O que eu acredito é numa educação que estimule a liberdade e a autonomia, mas que monitore – especialmente se é criança – para que ela descubra os limites que ela mesma tem que dar.
VITOR: Recentemente saiu na imprensa a informação de que, dos 6 bilhões de celulares que existem no mundo, 5 bilhões já foram monitorados de alguma maneira. A gente sabe que existem umas três empresas que mandam em toda a internet. Eu me pergunto: será que é tudo tão democrático assim? Ou é só o mesmo modelo, mas com outro nome, com outra cara?
VIVIANE: É totalmente democrático, Vitor.
PARDAL: Mas temos ainda histórias como a dos celulares monitorados, ou da espionagem dos EUA no Brasil, no mundo...
VIVIANE: Sim, há espionagem e é fato! Ninguém tem dúvida disto. O que acontece com a vigilância, que é extremamente interessante em minha opinião, é que você vai saber que não pode colocar a tua intimidade na rede, certo? Então, onde é você vai colocar? Na tua casa, no seu espaço psíquico, que vai voltar a crescer. A espionagem nos faz voltar para nós mesmos. Não é no público que eu tenho que exercer a minha individualidade. É eu e você batendo um papo. Bater papo vai valer uma fortuna (risos). Agora, o fato de ter câmera na rua e de todo mundo ter um celular faz você não maltratar uma criança, faz você não jogar o papel no chão. Então, o espaço público, pelo monitoramento que vai ter, vai se tornar um espaço ético! Porque se não, te pegam!

O que acontece com a vigilância que é extremamente interessante 
em minha opinião é que você vai saber que não pode colocar a tua 
intimidade na rede, certo? A espionagem nos faz voltar para nós 
mesmos. É eu e você batendo um papo. 
Bater papo vai valer uma fortuna!
VITOR: Mas isso aí é fronteiriço com aquela ideia do George Orwell (1903-1950) do controle absoluto, não acha?
VIVIANE: Só que George Orwell já é muito antigo, muito velho, já morreu, acabou! Ele não estava entendendo que a vigilância não vigia o teu pensamento e a tua sensação, não é? Então, nós, que estávamos sem interioridade, vamos descobrir na interioridade o melhor lugar do mundo. E aí, a poesia nasce! Aí a filosofia retorna. Eu só enxergo benefício no que está acontecendo. O que está acontecendo está arrebentando com as estruturas pré-estabelecidas de poder. Esse senso de poder é que tem que desaparecer. O poder fixo está caindo. O poder agora é totalmente mar. É o seguinte: o poder é uma coisa que não se tem, se navega. A crise ambiental é a melhor coisa que aconteceu no mundo. Eu amo o aquecimento global! (Risos) O aquecimento global fez a gente acordar e dizer: “estamos destruindo a natureza”. O aquecimento global tá mudando o modelo de consumo, tá mudando o modelo de raciocínio, tá mudando a relação com a natureza. Se não tivesse um aquecimento global, a gente ia ter que inventar um, entendeu? Um boato aquecimento global!
VITOR: Tem gente inclusive que diz que é boato, simplesmente...
VIVIANE: É! Tem gente que diz que é! Eu nem contesto se é ou não! Dane-se se existe ou não, de fato! Eu vou continuar dizendo que ele existe porque isso nos é muito útil.

PARDAL: Todo esse pensamento me leva a crer que você é uma otimista.
VIVIANE: Extremamente otimista! Essa juventude é muito melhor do que a minha. “Ah, porque na minha época”. Na minha época o quê? Na minha época nós éramos ou marginais ou estabelecidos. Isso é horrível. Eu perdi muitos amigos sendo marginais. Hoje, gente, por favor, a gente tem que ter clareza disso: foi dado o instrumento pra quem quer agir, agir. Se a gente hoje, com os instrumentos que a gente tem de ação pra juventude, puder incentivar uma educação crítica, criativa, que incentive a autonomia, a inventividade, a compreensão do processo social, cara, o mundo vai ser o que a gente quer. Agora quem está fazendo o mundo somos nós. Em 2020, 2030, se o mundo estiver uma merda, é nossa responsabilidade.
VITOR: Mas você está voltando sempre pra educação, e eu pergunto o que seria essa educação crítica, revolucionária, vamos dizer, em termos práticos. Dentro da escola, propriamente. Quais seriam essas diferenças?
VIVIANE: Primeiro, a escola não pode mais ensinar. Ela só pode aprender. O que o professor pode saber mais do que a internet? Nada. O aluno tem acesso à internet, e o professor também tem. O aluno pode saber mais que o professor, naquele aspecto. Então não existe mais uma escola de transmissão de conteúdo. A escola passa a ser o lugar em que apenas se desenvolvem métodos de pesquisa e ferramentas e aprende-se valores. 
Se a gente hoje, com os instrumentos que a gente tem 
de ação pra juventude, puder incentivar uma educação 
crítica, criativa, que incentive a autonomia, o mundo vai 
ser o que a gente quer. Agora quem está fazendo o mundo 
somos nós. Em 2020, 2030, se o mundo estiver uma 
merda, é nossa responsabilidade.

PARDAL: Debates, e tudo mais.
VIVIANE: Debates, escrita poética, prosa, escrita científica, desenvolvimento da oratória, da argumentação... Fora isso, você tem que ter método de pesquisa. Como encontrar as melhores fontes? Como distinguir uma fonte ruim de uma fonte boa? Como construir uma argumentação? É isso que eu falei pra vocês sobre autonomia e responsabilidade. A gente incentiva que as pessoas busquem. As escolas tem que ensinar você a ser um cara que, com dezessete anos, se eu for te entrevistar pra alguma coisa, você vai saber falar muito bem, se expressar muito bem, defender suas opiniões muito bem, ter uma ótima argumentação.
JULIO: Eu compreendo sua linha de raciocínio, mas eu queria te provocar aqui...
VIVIANE: Por favor.
JULIO: Do ponto de vista de um modelo macro econômico, com muitos oligopólios...
VIVIANE: Não tem modelo macro econômico, amor. Qual modelo macro econômico? Não tem mais...
JULIO: Há uma concentração de poder que talvez...
VIVIANE: Em quem?
JULIO: Esses protestos que estão acontecendo no mundo todo, aqui no Brasil desde a jornada de Junho, na Espanha, os Indignados...
VIVIANE: Elas estão nas ruas, mas elas não leem jornal. Se as pessoas lessem jornal elas não estavam naquela palhaçada. Me desculpa, elas não leem jornal. Eu tenho vergonha das manifestações. As pessoas irem pra rua contra o capitalismo e ainda quebrarem vidro de loja, achando que aquilo ataca o capitalismo? Que falta de leitura! Essa é a parte da juventude que me incomoda muito. Não existe oligopólio como as pessoas estão falando. Ou existe, mas em franca decadência. Se você quer fazer política, seja criativo, que aí sim você poderá estar destruindo uma grande empresa. E não quebrando porta de banco. Quem paga as portas dos bancos somos nós, os correntistas. O capitalismo está tirando as pessoas da miséria, cara. Não é o marxismo que está tirando as pessoas da miséria. Todo pobre hoje é um consumista em potencial. Ninguém tem interesse em manter mais a miséria. Porque o Brasil cresceu. A Índia cresceu? A China cresceu? Pelo número de pessoas que podem tirar da miséria e consumir. Tirar as pessoas da miséria incentiva a indústria de baixo pra cima, e é o que está acontecendo no Brasil. No futuro, a exclusão vai continuar existindo, mas não será mais uma exclusão econômica. Será uma exclusão intelectual. Quem não estiver no status da intelectualidade é que vai ser descriminado. Uma boa parte da classe C no Brasil saiu da miséria, isso é fato. Ainda é pobre, mas não é mais miserável. Mas não deixou de ser excluída. O problema não é financeiro. A classe C é tratada mal, não tem atendimento, não tem uma porrada de coisas, mas tem dinheiro. Tem dinheiro pra comprar. O problema do mundo não é mais a exclusão financeira, é a exclusão intelectual, e por isso a educação é a grande mudança. Mas sabe qual é o meu grilo, que me desespera? É que, com tudo isso, você vai pra rua levantar bandeirinha anti capitalismo? Quem trouxe isso foi o capitalismo.


VITOR: É interessante isso, mas o capitalismo é isso também... Eu fui ` Nova Iorque recentemente, e olhando a cidade, pensei: cara, esse lugar é incrível, mas ele só existe às custas da África, por exemplo. O mundo inteiro não poderia ser assim. Não suportaria. Não é possível.
VIVIANE: Exatamente. É isso que tem que acabar.

Eu tenho vergonha das manifestações. As pessoas irem 
pra rua contra o capitalismo e ainda quebrarem vidro de loja, 
achando que aquilo ataca o capitalismo? Que falta de leitura!
Se você quer fazer política, seja criativo, que aí sim você
poderá estar destruindo uma grande empresa. E não quebrando
porta de banco. Quem paga as portas dos bancos somos nós.
VITOR: E essa é a minha questão. Esse capitalismo não é uma coisa que por princípio poderia ser para todos...
VIVIANE: Nisso você tem razão, e isso é o capitalismo  americano. É a cara do antigo capitalismo. O capitalismo está se transformando. Ele era movido por meia dúzia de CNPJs ou CPFs, e isso era o problema dele, a exclusão, as oligarquias. Hoje o que move o capitalismo é uma coisa mais orgânica. É muito mais disperso. A lógica do mercado, quando ela não é controlada por meia dúzia de cabeças, ela é mais democrática do que nossa boa vontade. Eu odeio boa vontade. Por exemplo, o que me incomoda no marxismo... Sempre li o marxismo, mas o que o Deleuze diz? Acabou o época dos sistemas. O que é o sistema? É Freud achar que descobriu o inconsciente e agora ele responde tudo sobre o ser humano. Desculpe, Freud, mas vá à merda. A mesma coisa o marxismo. Marx diz: eu entendi o mundo, descobri o segredo e vou mudar o mundo! Desculpa, Marx, mas o mundo não tem um segredo. São milhões de segredos. Nenhum ser humano é capaz de propor uma coisa para o mundo. O mundo é muito grande pra uma cabeça só.
VITOR: Mas o capitalismo não faz a mesma coisa?
VIVIANE: Não, não existe “O” capitalismo. A gente fala “capitalismo” como se existisse um sistema organizado por alguém. O que existe é o mercado.
VITOR: Mas justamente. O mercado também não faz isso, de se oferecer como uma única solução?
JULIO: Isso me leva a outra questão que concatena com essa, que é o seguinte: você diz que o saber é o fundamento do poder. Com isso você não está excluindo outras formas de poder?
VIVIANE: Quais?
JULIO: Como a força, a inteligência, que não é exatamente saber...
VIVIANE: Mas força é conceito. Ou tem força física, ou conceito. Ou eu te dou uma porrada na cara, ou eu digo alguma coisa. A sociedade estrutura-se na força e no valor. O que eu estou dizendo é que nós vivemos a sociedade do conhecimento. Nosso tempo é o tempo do valor, e não da força física.
VITOR: Na medida em que a força física é controlada pelas leis, você quer dizer?
VIVIANE: Exatamente. A força física é dominada pelo conceito. Então nós só temos conceito. Sempre foi assim.
JULIO: Mas, por exemplo: embora você seja crítica dos protestos, se não houvesse repressão aos protestos, nós estaríamos vivendo um outro quadro aqui que só não está acontecendo porque...
VIVIANE: Claro. Se não tivesse repressão aos protestos as pessoas não teriam motivo. As pessoas vão pra rua sem nenhuma direção. Ai fica assim: "Vem também! Vem também!" Peraí. Vem também? Qualquer um? Você está chamando os neo-nazistas pra andar com você?
VITOR: É, isso foi uma crise óbvia dos protestos.
VIVIANE: Você quer chamar os pedófilos? Os filhos da puta? Eu não vou pra rua pra chamar todo mundo, porque eu não sou a favor de todo mundo. “Venham todos pra rua”? Esse todo não me interessa. Eu sou a favor de política, de mudar o mundo, de transformar as instituições, mas não é este o caminho. Dali, daquelas manifestações, não surgiu, por exemplo, uma reforma política. As pessoas querem ir contra a polícia? É só isso? Desmilitarizar a polícia? Mas não se manifestaram a favor de uma reforma política? A nossa política é defender a rede. A liberdade e a autonomia dela. Quer fazer uma política boa? Defenda a internet, com sua liberdade e autonomia.
VITOR: Agora, por outro lado, a internet nos isola um do outro fisicamente, presencialmente.
VIVIANE: Felizmente, né? Ainda bem! (risos). Porra, vai ficar convivendo, convivendo, convivendo? (risos). Cadê a poesia?
VITOR: Ué, mas a poesia também é isso. E o sexo?
VIVIANE: Tem que ter solidão. Tem que resgatar a solidão, por favor! Eu adoro o isolamento, eu não saio de casa pra nada, não tenho nada pra fazer na rua. Eu acho que o século XX foi o século da convivência. As pessoas se prostituíam por qualquer coisa só pra conviver. Isso é uma merda, cara. A autonomia vem da solidão. Quem não sabe lidar com a solidão está fodido. Eu não acho um problema se isolar. A culpa não é da internet. E a internet está levando as pessoas pra rua. Não foi isso que aconteceu nas manifestações? A melhor coisa do mundo foi a gente descobrir que basta ter uma vontade que a gente aciona um milhão de pessoas. Agora, da próxima vez, que a gente acione contra uma coisa específica. O que aconteceu ali foi um sistema de comunicação novo, democrático e maduro sendo usado por pessoas sem capacidade de utiliza-lo. O mundo todo hoje sobra de imaturidade política e alto uso tecnológico. Esse é o abismo. Por isso que educação é a questão.
Tem que ter solidão. Tem que resgatar a solidão, por favor! 
Eu acho que o século XX foi o século da convivência. As 
pessoas se prostituíam por qualquer coisa só pra conviver.

VITOR: E o mal aluno?
VIVIANE: Nós temos que respeitar quem não quer estudar. A escola não faz isso.
VITOR: Esse mal aluno, por sua força imprevisível e questionadora, não deveria ser justamente alguém a se olhar com um interesse especial?
VIVIANE: Mas hoje ele toma Ritalina. É esse exatamente que toma Ritalina. Primeiro, tem um mal aluno, preguiçoso, que odeia estudar, mas pode ser um excepcional profissional em várias áreas. Não é pra tudo que se precisa de formação intelectual, pelo menos não uma formação careta. Segundo, se a minha escola não tem um modelo, se ela atende a demanda das individualidades, e você quer ser um líder, eu não vou cobrar de você biologia e química. Isso é permitido oficialmente, o governo federal permite isso.
PARDAL: Era esse meu problema, eu detestava Física e queria estudar Culinária na escola para poder cozinhar, que era algo mais importante do que Física para mim.
VIVIANE: Essa é a minha defesa. Tem que haver uma revolução no Brasil no ensino médio. Nas alçadas do governo mesmo. Mudar o modelo. Já está permitida a mudança, mas as escolas não estão tendo coragem, acham que não pode.
PARDAL: Assim como nos anos 90 era imprescindível estudar inglês, a partir de agora continua sendo imprescindível estudar inglês, mas também aprender a fazer um website, uma página na internet, entender de codificação.
VIVIANE: É outro tipo de educação. Por que é que hoje você vai estudar biologia e não estudar web design?



VITOR: A escola que você “prevê” é uma escola ainda segmentada por matérias?
VIVIANE: Não. A escola do futuro terá os mesmos eixos do Enem: linguagens, humanas, compreende?
JÚLIO: A criança não vai parar duas horas para estudar exclusivamente matemática, por exemplo?
VIVIANE: Não. São projetos de pesquisa. Por exemplo, isso já acontece na escola da Ponte e na Amorim Lima. É assim: você tem 10 anos de idade, entrou na sala de aula hoje e eu, professor, digo para os meus alunos o seguinte: nós temos até o meio do ano para desenvolver isto, isto e isto, e listo os conteúdos. Alguém fala: eu quero começar por esse tal. Cada um escolhe. Pelo tema você vai desenvolver um projeto. Eu dou uma, duas semanas para ele e vou acompanhando. Daqui a duas semanas ele diz para mim: quero começar por biologia, mas quero começar pelo coração, porque tenho um problema de coração, fui no médico, me interessa. No final ele constrói esse projeto. O professor então pergunta quem mais quer corpo humano. Junta todo o corpo humano. Coração pra cá, fígado para lá e cada um desenvolve seu projeto, sem aula.
VITOR: Separadas em classes?
VIVIANE: Sem classes. Veja o exemplo da escola da Ponte, que está há 40 anos assim. Inclusive não se reprova. É divido por grupos, mas não são salas. Olha só como funciona essa escola da Ponte (em Portugal) e a Amorim Lima em São Paulo. No andar de baixo você tem salas, no de cima nenhuma. No primeiro período você divide os alunos por turma, de modo que na primeira parte se distribuem tarefas, se discute os assuntos, não há aulas, os professores não dão aula na escola da Ponte. No segundo semestre todos os alunos vão para o segundo andar e estudam uns com os outros. O mais velho com o mais novo. Eles põem os grupos em um mural. Grupo do corpo humano do oitavo ano, do nono ano, cada um tem um grupo. Isso já é assim há 40 anos, forma os principais intelectuais e tem a melhor nota do Ideb de Portugal.
VITOR: O estudo pela memória está finalmente falido?

VIVIANE: Totalmente falido. Não faz sentido as nossas escolas de ensino médio hoje ficar mandando os alunos decorarem cadeia de carbono.
PARDAL: E o que faz o professor? Ele continua tirando dúvidas, auxiliando?
VIVIANE: O professor é chamado de gestor de conteúdo e conhecimento. Ele tira dúvidas e até dá aula se for preciso, se vários alunos estão com a mesma dúvida então reúnem-se todos e ele dá uma aula sobre aquilo pedido pelos alunos. O que é o professor então? Ele é um orientador da pesquisa especialmente em métodos.
Só existe inteligência emocional, não 
existe outra. A única maneira de ser inteligente 
é quando seu coração é colocado lá.
JÚLIO: E onde fica a questão do afeto no conhecimento? Até que ponto o conhecimento para constituir uma sociedade mais ética e democrática passa pelo sentimento?
VIVIANE: É que não existe uma separação entre entendimento e sentimento. Em meu livro “O homem que sabe” eu defendo a tese de que nós saímos do modelo de raciocínio em linha, para o modelo em rede. Não existe bonito e feio. Não existe certo e errado. Existe rede de tensões em todos os lados. Não se opõem valores. Por exemplo, tem gente que fala sobre a inteligência emocional. Eu morro de rir. Só existe inteligência emocional, não existe outra. A única maneira de ser inteligente é quando seu coração é colocado lá. Então como é que você faz para provocar um aluno a querer apreender? O professor tem que provocar o vazio no garoto de sete anos, para que esse garoto queira preencher esse vazio com pesquisa. O que é o vazio senão o afeto? O aluno vai querer aprender o que tem a ver com afeto. Você só aprende o que você já sabe, essa é a única realidade. A gente só busca o que já está na gente. O afeto é a razão de ser da vida. Então temos que juntar afeto e conceito num modo só.
VITOR: Você criticou a regulação do segredo do Freud ou do Marx e tal. Você não estaria fazendo a mesma coisa ao dizer: “a relação piramidal acabou e agora é isso”, como sendo uma nova verdade. Dizer isso não é uma maneira na verdade de se frustar amanhã?
VIVIANE: É manter o jogo. Até vir outro e me destruir, faz parte, não é um problema. Eu estou tentando ler o mundo – eu não tenho uma teoria minha – o que tento fazer é dizer: “olha só o que está acontecendo”. A minha proposta é pensar e não repetir. Ao pensar eu estou dando a chance de você fazer uma tese contrária a minha. Eu vou adorar. É uma maneira de provocar, isso eu acho que é o novo conceito: não produzir verdade. Não tem verdade no que estou falando, tem provocação.
JULIO: Dentro desses tópicos, de conhecimento, informação, como é que você vê a questão da propriedade intelectual?
VIVIANE: Não há propriedade intelectual.



VITOR: Mas então como é o que o compositor, por exemplo, ganha dinheiro?
VIVIANE: Olha só como acontece hoje: eu, por exemplo, sou altamente consumidora de música pela internet. Todas pagas. Não tenho nada que seja pirata, porque pago 99 centavos de dólar por uma música que escolho. Nós não vamos perder essa noção, de ter um retorno. Agora, o direito intelectual nunca foi nosso. Nunca foi. Você faz um livro e vende um milhão de livros, mas vão dizer pra você que vendeu quinhentos.
VITOR: De tudo que você está falando, a diferença não parece ser entre um mundo que havia e que agora não há mais. É mais entre um mundo que já não havia e que a gente achava que havia, ou que gostava de achar que havia.
VIVIANE: Exatamente. É exatamente isso. Ele já não havia.
PARDAL: Você acha que o cenário artístico contemporâneo está distanciado, desconectado das verdadeiras questões filosóficas atuais? De tudo que falamos, onde é que entra o artista?
VIVIANE: Eu acho que a cultura é quem está mais deplorável no mundo. Os artistas estão desnorteados. Eles estão engolidos pelos meios, não estão entendendo. Eu não estou vendo os artistas se colocarem no mundo. Porque a cultura e a arte são o fundamento desse empoderamento intelectual. O que nos forma é a cultura. Quem forma a inteligência do brasileiro? Então, é a cultura que tem que puxar esse processo da educação. A cultura é a liga que falta, entende? É quem vai trazer educação. O maior investimento que eu faria se fosse presidente do Brasil – eu nunca seria, nem pelo fim do mundo, eu ocuparia um cargo desses, nem prefeito nem nada, jamais, em nenhuma hipótese (risos). Mas, supondo que eu estivesse nesse lugar, o meu investimento número um seria em cultura.


Eu acho que a cultura é quem está mais deplorável 
no mundo. Os artistas estão desnorteados. Eles estão 
engolidos pelos meios, não estão entendendo. Eu não 
estou vendo os artistas se colocarem no mundo.

VITOR: Mas ai você não está fazendo uma espécie de curadoria, dizendo que uma coisa é boa, válida, e outra não? Em termos de produção artística, por exemplo? Porque a verdade é que ouve-se muita música. Com isso, não se está dizendo: ouça Cartola, e não, sei lá, Luan Santana?
VIVIANE: Não, não, porque a escola boa não tem muro. Você não estuda na escola, você estuda no teatro. Não é que a escola vá ensinar você a ouvir música. Você tem aula lá no teatro. É assim que as escolas boas fazem.
VITOR: Sim, mas que peça ela vai assistir? A do ator dA Globo ou Beckett?
VIVIANE: Isso vai depender da discussão da própria escola. Ai que vem a comunidade. Ai vem a participação sua, que tem dezoito anos, naquela comunidade.
CAMILO: O pensamento crítico nasce sozinho.
VIVIANE: Entendeu? Sozinho! Eu sou contra liderança. É o que mais gostei das manifestações. Não ter liderança! Mas não ter liderança não quer dizer não ter direcionamento.
VITOR: É claro que concordo com isso, mas talvez eu ache idealizado na medida em que a gente vive, ou viveu, até a internet, num mundo com lideranças e com interesses velados. Me angustia olhar a internet e pensar que ela é um veículo impressionante, mas no qual noventa por cento do que se vê é vazio, não é nada, não diz nada.
VIVIANE: Mas isso é o quê? Educação. Estamos concordando. Nós temos o suporte, mas não temos conceito.
VITOR: Sim, mas então tem uma curadoria. Tem alguém dizendo que isso é bom e aquilo é ruim.
VIVIANE: Claro. A curadora vai sempre existir. Eu faço um livro, e você é contra. Mas ai outra pessoa diz que ir contra meu livro é um absurdo. Uma semana nós vamos com um, outra com outra. Uma semana é com o Luan Santana, a outra...
VITOR: Mas e o mundo em que a maioria é homofóbica e acha que negro não tem que ter espaço, e acha que...
VIVIANE: Mas isso é consequência de uma educação piramidal, que é o que nós falamos lá atrás, do capitalismo. Nós fomos formados, até hoje, a ter preconceito, a não aceitar a diferença, a dizer que o bonito é quem tem o cabelo liso,  é branco, alto e magro. Isso é consequência de uma educação capitalista dirigida.
VITOR: Pois é. Hoje, uma eleição na internet, provavelmente proibiria a relação homossexual.
VIVIANE: Hoje a internet é fascista. Todo mundo diz a mesma coisa. O fascismo não é te proibir de dizer. É te obrigar a dizer. A internet hoje é fascista, porque ela te obriga a dizer. Por exemplo, a discussão das biografias é uma discussão muito legal e não essa merda que fizeram. Se você é contra a biografia não autorizada, como eu sou contra, você é destruído. Você é tratado que nem cachorro e lixo. Não se mexe na vida particular... Que que é isso? Quer falar da minha vida pública? À vontade. Agora, com quem eu vou pra cama, como é que eu trato meu filho, é problema meu.



VITOR: Eu sou a favor das biografias não autorizadas, mas concordo que o importante é poder discutir isso.
VIVIANE: Isso! E ninguém discutiu! Só tem espaço pra falar mal. Eu fui defender isso na (rádio) CBN e fui apedrejada! Eu sou contra! Eu sou a favor do Roberto Carlos e do Caetano Veloso! Você leva pedrada!
JULIO: Mas a questão pra mim é a seguinte: você é contra as biografias não autorizadas. Eu sou a favor. O que não quer dizer que eu seja a favor de qualquer coisa que a pessoa escreva. Não é bem assim a questão.
VIVIANE: Claro que é.
JULIO: Não necessariamente.
VIVIANE: Claro. Porque primeiro ela vai publicar e depois eu vou reclamar?
VITOR: É.
VIVIANE: Como assim? Depois que você postou na internet que eu sou fascista, e provou, porque tudo se prova, né? Você prova. “Está aqui. Conversei com a empregada dela, conversei com o filho”. Ai alguém lê e tem certeza. “Ela é fascista mesmo! A empregada falou” (risos).
VITOR: Mas qual é a fronteira entre a vida pública e a vida privada?
VIVIANE: Não acho que a gente tenha que proibir necessariamente que uma coisa saia. Mas a gente tem que discutir o valor que se dá a vida privada hoje.
VITOR: Sim, isso eu concordo.
VIVIANE: Lembra que eu falei que a gente vai voltar pra dentro? Eu sou a favor da vida privada. Do resgate da vida privada. Hoje, por causa da internet, e esse é um lado ruim, parece que toda nossa vida tem que estar lá. Tudo que eu posto na internet é público, para todos. Eu sei como aquilo ali funciona. Agora, eu não apareço na Caras, e já me convidaram várias vezes. Não vou no Faustão, e já me convidaram várias vezes. Não tenho interesse nenhum e não vou à festas de celebridades. Não faço palhaçada na rua, como especialmente o Chico Buarque não faz. Ai, alguém tem direito, porque gosta de mim, vai com a minha cara, de entrevistar uma ex empregada? Quem disse que o que ela falar tem a ver com o que você está vivendo? E vira verdade. Até eu conseguir provar que aquilo é uma difamação... Nunca mais eu consigo desfazer.
JULIO: Isso vem acontecendo desde a pré-história.
VIVIANE: Então. É por isso que eu sou a favor da regulamentação. Da vigilância. Alguém vai sempre poder roubar a sua casa. Mas você tem o direito de fechar a porta. Acho até que podia liberar as biografias, sinceramente. Não acho que tenha que proibir. Mas a gente deveria ter tido uma longa discussão sobre o perigo das nossas revistas Caras.
JULIO: Mas isso não é supor também que todo mundo está desavisado, que todo mundo que está lendo isso está achando que é verdade?
VIVIANE: A argumentação prova o que quiser. Eu, Viviane, inteligente, esperta, vou ler e vou concordar. Argumentação e nada é a mesma coisa. Outra coisa: a liberdade de expressão. Vai dizer pra mim que existe liberdade de expressão no mundo? Tem censura pra tudo. Então vem dizer pra mim que a história das biografias é censura? Não há liberdade de expressão. A rede não é lugar pra você ter a sua intimidade.
VITOR: Mas o que eu acho irônico é que a gente sabe que a Caras ou qualquer uma dessas revistas é, na verdade, uma grande peça publicitária – até porque aquilo sim é chapa branca.
VIVIANE: É, totalmente...
VITOR: Eu acho a Caras uma coisa horrorosa, e acho irônico que ali se devasse uma vida privada – inventada, claro, de roupão, no hotel – mas de forma completamente escancarada, de porta aberta, tirando foto no banheiro. Me estimulam a querer ver a vida do artista, porque é óbvio que ele é um cara interessante, e quando eu continuo querendo, se fala: “não, não agora, chega...”.
VIVIANE: É isso que eu concordo. Por isso que, na minha questão, a discussão seria essa invasão da vida privada, e não a biografia. Por que o Brasil tem essa obsessão? Eu detesto biografia. Eu nunca li nem a biografia do Nietzsche. Odeio biografia. Não faz diferença quem foi o Nietzsche de fato. Faz diferença o que o cara fez. A gente tem que parar de valorizar pessoas, e passar a valorizar suas produções.
PARDAL: Qual é questão do filósofo hoje? O que ele se pergunta, ou o que ele deveria se perguntar?
VIVIANE: Depende do tipo de filosofia. Tem sempre um ponto em que você toca, naquele momento, que pode ser fundamental pra uma transformação. E cada hora é um ponto. A questão do pensamento hoje, especialmente o político, é você conseguir pescar o eixo da transformação, e poder incentivar. Eu acho que esse eixo é a educação. Desconstruir o processo educativo, do ensino infantil à universidade.
VITOR: Fazer, como a internet fez com o mundo, na educação. Um novo marco zero.
VIVIANE: Exatamente. A democratização do conteúdo muda a relação de poder no mundo. Essa é a minha tese. Não voto há mais de trinta anos. Quer fazer política? Dane-se quem vai ser eleito. Vamos criar instâncias de vigilância de baixo pra cima. Ai os caras vão fazer o que a gente quer.