"A experiência dos estados mais bem-sucedidos mostra que consertar a educação requer muito mais do que jogar dinheiro no sistema"
Segundo afirmativa corrente, os professores da educação básica ganham pouco, por isso a educação é ruim. Como tenho a infeliz sina de acreditar na ciência, para mim isso é assunto de contar e medir. Ganhar pouco ou muito é uma questão relativa (como se viu pelas discussões sobre salários de deputados e juízes). Portanto, só tem sentido a comparação com categorias equivalentes. Com Gustavo Ioschpe, fiz uma revisão de duas pesquisas meticulosas, cotejando o salário dos professores com o de outros grupos profissionais na América Latina. Os resultados colidem com os mitos. Em confronto com pessoas de educação equivalente, os professores não ganham menos. Calculando-se os salários-hora, aumenta a superioridade salarial dos mestres, inclusive dos brasileiros. Ou seja, não se pode dizer que os professores ganham mal, considerando a remuneração de profissionais com igual escolaridade. Há significativas variações, de estado para estado, sendo alguns professores realmente mal pagos. Mas, como a educação é ruim na média, faz sentido comparar salários de professores, também na média.
Outro estudo interessante nos é dado por uma pesquisa recente de Samuel Pessoa, na qual o autor confronta os salários do sistema privado com os do sistema público. Em contraste com as conversas de botequim, em média os salários do setor privado são ligeiramente inferiores, apesar da ampla superioridade no desempenho dos seus alunos. Mais um abalo sísmico nos castelos da imaginação.
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A Gazeta - Gilson |
Só há
uma conclusão possível da análise de tais
números: a má qualidade do nosso ensino não
pode ser explicada pelos salários dos professores. Não
se trata de metafísica nem de imponderáveis. Quem
discordar dessa afirmativa que trate de demonstrar que os números
estão errados. Mas, remexendo outros números,
podemos encontrar algumas pistas intrigantes. Pesquisa recente
indicou que 80% dos professores da rede pública estavam
insatisfeitos e com sua auto-estima chamuscada. Já em
uma pesquisa com escolas privadas de todo o Brasil, verifiquei
que 80% dos professores estavam satisfeitos. Ou seja, com níveis
salariais parecidos, as escolas privadas – não apenas
as de elite – atraem melhores professores e os mantêm
contentes. Não há dados confiáveis, mas
parece que os professores estão também contentes
nas públicas bem lideradas.
Se essas ideias
fazem sentido, os sistemas públicos ganhariam em qualidade
se conseguissem criar um ambiente mais positivo e estimulante
para os seus professores. Como a escola tem a cara do diretor,
a sua escolha irresponsável arruína o ensino.
Onde isso ocorre, os professores se sentem desvalorizados e
manipulados pela burocracia. Os mais graves pepinos estão
no clientelismo do governo local. A politicagem passa na frente
das preocupações com a qualidade. A carreira do
magistério é leniente com malandros e incompetentes.
É a "incompetência ignorada, a competência
não reconhecida". No fim das contas, a experiência
dos estados mais bem-sucedidos mostra que consertar a educação
requer muito mais do que jogar dinheiro no sistema.
Claudio de Moura Castro é economista
(Claudio&Moura&Castro@cmcastro.com.br)
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